João Sousa
Cardoso
Toda a experimentação artística deve nascer do incómodo e da não coincidência com a realidade e deverá idealmente promover o sobressalto e a transmutação das consciências do indivíduo e das sociedades.
João Sousa Cardoso é um artista plural cujo trabalho assenta num interesse colaborativo, de reconfiguração das culturas populares, com a dimensão sociológica do trabalho de campo e o cruzamento de disciplinas e práticas. Frequentemente reflete acerca de uma memória cultural portuguesa integrada numa Europa desenvolvida.
Interessa-se pelo universo das imagens em movimento, pelas ciências sociais e humanas e por uma análise de imagens que sobrevivem através dos tempos. João Sousa Cardoso cultiva uma proximidade entre investigação académica, e a criação plástica através da realização de filmes documentais, ações performativas e exposições.
Por vezes, a memória serve de ponto de partida para procurar as questões da invisibilidade que a esta se associam, como no caso do projeto "O Livro do Movimento 2002 – 2005”, quando explora o apagamento da memória e a privação de um território (e a consequente condição de exílio) relativamente a duas aldeias portuguesas submersas pela construção de Barragens – Aldeia da Luz e Vilarinho da Furnas.
É num palco/mesa que acontece a proposta de João Sousa Cardoso para o Museu de Serralves, resultado de uma colaboração com o Rancho Douro Litoral. No espaço galerístico, para além das atuações quinzenais do Rancho, revisitam-se acontecimentos relacionados com a memória portuguesa do século XX – vídeos, objetos, textos... e uma atuação periódica de um rancho popular. Utilizado quer pelo Estado Novo, quer pelos partidos no período pós-revolução de Abril, o rancho folclórico transporta consigo uma série de associações que, no território do museu, podem desencadear reações de recusa ou de adesão, dependendo do ponto de vista de quem observa.